Desde que eu e o M. nos separámos, vivo na expectativa de receber notícias dele. Notícias que eu espero mas que eu não quero. Notícias que eu devia ignorar mas não consigo. Ontem o M. "apareceu" novamente sob a forma de sms. Pediu-me desculpa por não ter dito nada nos últimos dias e disse-me que um percalço o impediu de falar comigo. Mais uma vez enchi-me de esperanças que algo possa mudar, embora tudo me diga que isso dificilmente irá acontecer. Acho que esta forma de viver o fim do meu relacionamento com o M. funciona como uma forma de autodefesa ou um artifício para fugir à crua realidade da separação. E logo eu que sempre fui tão racional... É impressionante que, por mais que tentemos e por mais que finjamos ser fortes, tal não é verdade. É que não dá para esquecer tão rapidamente um grande amor. Acho que nunca se esquece, só se faz de conta que já não se lembra. Eu tenho feito um esforço descomunal, maior do que as minhas próprias forças, para tentar esquecê-lo e habituar-me a viver sem a presença do M.. Mas de repente ele resolve "aparecer" de novo e provoca um turbilhão de sentimentos na minha vida... A minha cabeça dá mil voltas, sem saber o que pensar… E pergunto-me: o que é que eu terei feito para estar a passar por uma coisa destas? Ele que me dizia: "Tu és uma pessoa maravilhosa e mereces ser muito feliz", como é capaz de me fazer isto? Não consigo perceber. Estou confuso…
Também ontem, quando ia a sair do ginásio e já na rua, esbarrei literalmente com um gajo que passou boa parte do verão passado a "perseguir-me". Antes disso, eu já o conhecia e sabia que ele era gay. Os nossos olhares cruzaram-se de novo mas devo dizer que não senti nada ou seja não houve aquela "química" especial. Não houve agora nem houve no passado. Porque amar alguém significa desejar ver de novo, sentir de novo. É um sentimento que vicia, que torna dependente, que retira a paz e a tranquilidade nos tempos de ausência. Mas também sei que isso nem sempre é tão linear. Um amor pode acontecer mesmo sem a "química" da primeira vez. Mesmo sem a paixão avassaladora. E talvez sejam esses os amores que suportam os relacionamentos mais duradouros. Por isso, estou tranquilo. Se algo tiver de acontecer, acontecerá. Não vou forçar algo a acontecer para depois me arrepender. É verdade que se costuma dizer que mais vale arrependermo-nos por aquilo que fizemos do que por aquilo que não fizemos. Eu sei disso. Mas por enquanto não vou fazer nada. Não quero embarcar numa aventura sem sentido. Para mim, nada é melhor que um namoro estável e duradouro. Mas sei, por experiência própria, que namorar não é fácil. Tem de surgir aquela incrível coincidência de sentimentos, que não se podem descrever por palavras ou gestos… No meio disto tudo, começo a pensar que estes (des)encontros me querem dizer alguma coisa. O que custa mais é decifrar a difícil escrita da vida…