Estava eu a almoçar e a fazer zapping pelos quatro canais da televisão nacional, quando me deparei com o programa "As Tardes da Júlia", da TVI, que tratava do tema: "Assumo: sou machista". Fiquei boquiaberto com aquilo que ainda pude ouvir de alguns convidados, já que não acompanhei todo o programa. Por momentos, pensei que tinha regredido no tempo… Mas não. De acordo com as declarações dos convidados, orgulhosamente machistas, a mulher não tem quaisquer direitos e quem manda lá em casa é o homem. Trabalhar fora de casa, nem pensar. Eu, que pensava que em pleno século XXI o modelo de um homem cônjuge e pai, autoritário e chefe de família, estava definitivamente posto de lado, tive de equacionar os meus conceitos. Ali estavam três legítimos representantes dessa espécie em vias de extinção, que dá pelo nome de macho lusitano.
Ao ouvir aqueles senhores, não resisti a colocar a questão de não existir ainda em Portugal um modelo familiar totalmente igualitário e baseado na co-responsabilização de homens e mulheres. E uma das conclusões a que cheguei é que a entrada das mulheres no mundo do trabalho, sendo actualmente um dado inquestionável, veio provocar efeitos na vida conjugal, nomeadamente ao nível das relações de poder, e na vida familiar e doméstica, no que diz respeito à divisão das tarefas, que passou a ser, mais do que uma vontade, uma necessidade. Talvez sem tomarem consciência disso, aqueles três representantes do machismo lusitano, ao não deixarem as suas mulheres trabalhar fora de casa, acautelaram a sua posição de macho dominante. E o pior é que estas ideias continuam a vingar neste país de brandos costumes. Simplesmente, de cortar os pulsos…