Ontem, acabei a tarde numa bela esplanada frente ao mar, a realizar que já cheira a primavera e que não tarda nada estamos de novo no verão. O sol ainda brilhava e as preocupações do dia-a-dia iam-se tornando etéreas perante o espectáculo de um mar que parecia convidar a um mergulho. Aliás, o mar sempre foi para mim uma espécie de confidente nas horas mais difíceis ou nos momentos mais felizes. Sou capaz de passar horas frente ao mar, simplesmente a olhar o horizonte e a reflectir na minha vida. Depois de tomar uma bebida fresca, tudo parecia ainda melhor, até que caí novamente no mundo real quando me voltei a confrontar com a notícia do dia: na Alemanha, um jovem de 17 anos, aparentemente normal e tranquilo, matou nove alunos e três professores na escola que tinha frequentado, sendo que um dos estudantes feridos acabou por falecer. Após o massacre, Tim Kretschmer pôs-se em fuga. Pelo caminho matou ainda mais três pessoas, até ser ele próprio abatido a tiro pela polícia. Ao todo 17 mortos. Naquele final de tarde, dei comigo a pensar que Tim podia ser um dos meus alunos. Que a escola de Winnenden podia ser a minha escola. Que os alunos massacrados podiam ser meus alunos. Que os professores assassinados podiam ser meus colegas. Que eu próprio podia estar entre os professores assassinados… Perante isto, nada mais me restou fazer senão olhar novamente o sol e o mar, cheirar a primavera e deixar que a natureza me alienasse mais uma vez…