Um blogue pessoal mas... transmissível

30
Mar 09

 

Começo a estranhar o silêncio em que está imersa a Presidência da República. Parece que o Presidente da República não tem nada a dizer sobre os últimos acontecimentos que envolvem ainda mais o primeiro-ministro no "caso Freeport". Já lhe conhecíamos essa faceta sonsa no caso Dias Loureiro, mesmo depois daquela falta de memória selectiva e radical, que veio mesmo a calhar. Agora o "caso Freeport" está de novo na ribalta, depois da TVI ter divulgado umas comprometedoras gravações em que o empresário Charles Smith afirma que José Sócrates é "corrupto". Convém dizer mais uma vez que no "caso Freeport", Sócrates é inocente até prova em contrário. No entanto, parece-me que o Presidente da República já se devia ter pronunciado sobre o que está acontecer, não alimentando guerrilhas político-partidárias, mas chamando a atenção para o funcionamento da justiça, que a meu ver tem sido pouco mais que vergonhoso.

 

De facto, quando existem dois arguidos suspeitos de corrupção activa, porque não se investiga qual é a identidade dos alvos dessa corrupção? Quando os magistrados envolvidos na investigação do caso se queixam de pressões nessa investigação, porque não se investiga de onde provêem essas pressões? Quando o processo parece ter estado parado durante quatro anos, porque é que só agora é que se avançou e ainda por cima pressionados pela investigação da polícia britânica? Quando existem jornalistas que dizem ter sofrido pressões de elementos do PS para não publicar notícias sobre o "caso Freeport", porque não averiguar a fundo qual a natureza de tais pressões e seguidamente proceder em conformidade? Tudo isto exigia uma intervenção do Presidente da República. Até para acautelar, como é sua obrigação, a separação de poderes, zelando para que o poder judicial não viva em cambalacho permanente com o poder executivo. Mas o homem é sonso demais…

 


27
Mar 09

 

 

Já tinhamos a justiça de Fafe. Agora passámos a ter também a justiça do Marco. Ontem, o tribunal do Marco de Canaveses absolveu o ex-presidente da câmara, Avelino Ferreira Torres, de todos os crimes de que estava acusado pelo Ministério Público. Corrupção, peculato de uso, abuso de poder e extorsão. Afinal, coisa de pouca monta... Parece até que o homem que só acreditava na justiça divina e na justiça de Fafe (lembram-se dos pontapés e das agressões?), passou agora a acreditar também na justiça dos tribunais. Como homem de fé, o senhor Avelino Ferreira Torres, ao conhecer a sentença, deve ter pensado consigo próprio: "God moves in mysterious ways". E eu não sei se acredito mais na justiça humana e acho que o homem é inocente. Ou se acredito mais na minha própria intuição e acho o homem culpado. Olhando bem para a expressão do senhor Avelino Ferreira Torres na fotografia que acompanha este post/pensamento, parece-me é que o homem não disse nem pensou mais nada senão isto: "Desta já me safei!"...

 


26
Mar 09

 

 

A discussão sobre a (in)oportunidade da construção de uma linha férrea de alta velocidade voltou ontem ao Parlamento. Precisamente na semana em que foram conhecidos os números alarmantes sobre o desemprego em Portugal, os senhores deputados, desta vez pela mão do PSD, resolveram pela enésima vez entreterem-se num debate sobre o TGV. Agora com casinha renovada, até dá gosto. Pelo menos, parece que acabaram os dois martírios a que diariamente os senhores deputados da nação se submetiam: o calor e o tédio. O ar condicionado voltou a funcionar e haverá seguramente mais deputados a blogar, a twittar e a engrossar o número de adeptos do facebook. Mas isto são contas de outro rosário…

 

A discussão de ontem sobre o TGV serviu mais uma vez para desviar a atenção quanto aos números do desemprego. E o Governo agradece. Expliquem-me como se eu fosse muito burro, mas ainda não consegui perceber se o problema do PSD está no traçado da via férrea ou na inoportunidade da sua construção. É que realmente as cabeças pensantes deste parlamento confundem-me… Ninguém estará interessado em saber a minha opinião, muito menos o Governo e os senhores deputados, mas aqui vai. Pois, na minha humilde opinião, a construção de tal infra-estrutura é um crime e, a fazer-se, só revela que os governantes deste país perderam todo o sentido do equilíbrio e do bom senso. Portugal é um país demasiado pequeno e pobre para se aventurar na construção de uma obra megalómana como o TGV. A única coisa que ainda poderia aceitar era uma ligação por TGV entre Lisboa e Madrid e que se melhorassem substancialmente as ligações ferroviárias entre a capital e outros pontos do país, nomeadamente com o Norte e o Algarve. De contrário, não vejo como um investimento tão avultado possa ter retorno a curto ou médio prazo. Provavelmente nunca o terá e em pouco tempo estará a dar prejuízo ao país. A não ser que o Governo esteja já a pensar na possibilidade de Portugal vir a falir num prazo de 5 anos. Nesse caso, é melhor começar já a assentar os carris e a levantar as catenárias, para a bicheza poder fugir rapidamente para Espanha…

 


 

Perdoem-me se vos estou a aborrecer com o que vou dizer neste post/pensamento mas, por motivos óbvios, tudo o que envolve a Educação em Portugal interessa-me. Ontem a ministra da Educação e os dois secretários de Estado que habitualmente a acolitam estiveram no parlamento. Veio ao de cima, entre outros assuntos, a possibilidade de os professores que não entregaram os seus objectivos individuais poderem ser alvo de sanções por parte dos conselhos executivos, a quem o Ministério da Educação confiou, num gesto de absoluto desprendimento, essa ingrata tarefa.

 

Contudo, não era disso que eu queria falar agora. O outro assunto que me chamou a atenção foi a surpresa que a senhora ministra manifestou quando foi confrontada pela oposição com o incumprimento do advogado João Pedroso num contrato de ajuste directo com o Ministério da Educação, com o objectivo de fazer a compilação e sistematização das leis relativas à Educação. Com o seu habitual ar cândido, quase de donzela ultrajada nos seus mais íntimos sentimentos, a ministra veio dizer que desconhecia (!) que o seu amigo socialista fosse um "incumpridor nato" e que foi tudo uma "surpresa lamentável". Como se o irmão do também socialista Paulo Pedroso já não tivesse sido anteriormente contratado e o resultado não tivesse sido igualmente lamentável… Não satisfeita com isso, a senhora ministra ainda conseguiu negar que João Pedroso tenha sido contratado por ser seu amigo… Ora esta situação deixa-me profundamente revoltado. Enquanto o ME se dá ao luxo de esbanjar mais alguns milhares de euros do erário público, a escola onde trabalho debate-se amiúde com graves apertos financeiros. E tudo isto se passa sem quaisquer consequências políticas. Enquanto houver "jobs for the boys", "tá-se" bem…

 


16
Mar 09

 

Diz-se que os deputados da nação andam muito preocupados com a saúde dos portugueses e vai daí toca a cortar no sal que é utilizado no pão que se consome neste jardim à beira-mar plantado. Já aqui escrevi sobre a tentação dos legisladores em imiscuir-se na liberdade individual dos cidadãos. E neste caso em particular, essa tentação vem ao de cima de forma quase anedótica. Mesmo que seja em nome da "saúde pública", que é inegavelmente um bem a acautelar por todos, a começar pelo Estado. No entanto, e correndo o risco de me repetir, entendo esta atitude como uma espécie de asfixia que o Estado impõe ao indivíduo. Não está em causa saber se menos quantidade de sal no pão é mais benéfico ou não para a saúde dos portugueses. Está antes em saber se uma regulação desta natureza compete ao Estado. Será que o Estado pode determinar em todos os casos a forma como dispomos da nossa saúde ou do nosso corpo? Que lugar pode existir para a liberdade individual? Creio que ao Estado compete apenas disponibilizar aos cidadãos toda a informação necessária para que estes possam tomar as decisões que acharem melhores para si. Registo que num universo de 230 deputados, apenas 5 (!) deputados votaram contra. Tal facto não é de estranhar mas é profundamente revelador. Será que os deputados que votaram a favor, contra tudo o que habitualmente defendem, acham que o Estado deve regular assuntos que pertencem ao foro íntimo da vida dos cidadãos? Ou será que isso nem sequer lhes passou pela cabeça? Por estas e por outras, começo a pensar que se hoje é o sal no pão, amanhã será o açúcar nos bolos, a cafeína no café, o cacau no chocolate, e assim por diante. Quando o Estado não se consegue auto-regular, as suas decisões começam a raiar os limites do absurdo…

 


14
Mar 09

 

Depois da visita (triunfalista) do presidente angolano a Portugal, José Sócrates apressou-se a viajar para Cabo Verde, não para passar umas imerecidas férias mas para oferecer - pasme-se - doze mil "magalhães". Sim, leram bem. Doze mil "magalhães" (!). Essa maravilha tecnológica de iniciativa socrática, indispensável à aprendizagem dos meninos e meninas deste país e, pelos vistos, do mundo inteiro. Ao que parece ainda foram a tempo de corrigir os erros de português... Na sua ânsia de protagonismo e grandeza, o primeiro-ministro ainda arrastou atrás de si nove ministros e sete secretários de estado (!), além de numerosos empresários e jornalistas. Uma comitiva em grande, portanto. Tal facto não é de estranhar. Para quem tem habitualmente o ego tão inchado, a visita do senhor dos Santos deve ter sido verdadeiramente traumatizante para José Sócrates. E foi-o com certeza para todos aqueles que ainda estão na vida política com alguma decência. Afinal, ao visitar um país ainda mais pequeno e mais pobre do que Portugal, o que Socrátes quis foi sentir-se de novo em grande...

 


13
Mar 09

 

Na minha perspectiva, é muito preocupante o que se está a passar na indústria portuguesa. Enquanto o Governo se mostra orgulhoso de quatro anos de obra feita, a situação de crise na indústria está à vista de todos. De facto, todos os dias nos chegam notícias de empresas a fechar portas ou em risco iminente de as fechar. E não são apenas as Qimondas, as Delfhis e outras que tais, que até na crise as empresas parecem ter pedigree. São muitas pequenas e médias empresas que provêm ao sustento de famílias inteiras e que correm o risco de encerrar. Na zona onde moro, muitas empresas já fecharam portas enquanto outras estão a suspender a produção por períodos de alguns dias ou uma semana inteira, o que num futuro mais ou menos próximo não augura nada de bom... Por causa disso, conheço famílias em situações de grande aperto financeiro. São as prestações da casa ou do carro para pagar, são os filhos em idade escolar, com todas as despesas que isso comporta, são vidas adiadas, porque nuns casos as pessoas são muito novas e têm pouca formação académica enquanto noutros as pessoas já são demasiado velhas para conseguir novo emprego. Perante esta situação, arrisco-me a dizer que num futuro não muito distante, Portugal será apenas o grande shopping da Europa e o país do sol e da praia, enquanto algum concorrente mais barato não lhe arrebatar definitivamente clientes e turistas...

 

publicado por Pensador Insuspeito às 17:15

12
Mar 09

 

Ontem, acabei a tarde numa bela esplanada frente ao mar, a realizar que já cheira a primavera e que não tarda nada estamos de novo no verão. O sol ainda brilhava e as preocupações do dia-a-dia iam-se tornando etéreas perante o espectáculo de um mar que parecia convidar a um mergulho. Aliás, o mar sempre foi para mim uma espécie de confidente nas horas mais difíceis ou nos momentos mais felizes. Sou capaz de passar horas frente ao mar, simplesmente a olhar o horizonte e a reflectir na minha vida. Depois de tomar uma bebida fresca, tudo parecia ainda melhor, até que caí novamente no mundo real quando me voltei a confrontar com a notícia do dia: na Alemanha, um jovem de 17 anos, aparentemente normal e tranquilo, matou nove alunos e três professores na escola que tinha frequentado, sendo que um dos estudantes feridos acabou por falecer. Após o massacre, Tim Kretschmer pôs-se em fuga. Pelo caminho matou ainda mais três pessoas, até ser ele próprio abatido a tiro pela polícia. Ao todo 17 mortos. Naquele final de tarde, dei comigo a pensar que Tim podia ser um dos meus alunos. Que a escola de Winnenden podia ser a minha escola. Que os alunos massacrados podiam ser meus alunos. Que os professores assassinados podiam ser meus colegas. Que eu próprio podia estar entre os professores assassinados… Perante isto, nada mais me restou fazer senão olhar novamente o sol e o mar, cheirar a primavera e deixar que a natureza me alienasse mais uma vez…

 


 

Diz-se que Gerry McCann, o pai de Maddie, a menina desaparecida na praia da Luz em Maio de 2007, criticou ontem o comportamento dos jornalistas, pela forma como cobriram o desaparecimento da sua filha. De acordo com o médico, a sua família foi quase "destruída", em especial pelas notícias inventadas e que considera terem prejudicado as buscas, pelo que apelou a mais e melhor regulação dos media junto da comissão permanente do Parlamento inglês para os assuntos de Cultura, Desporto e Comunicação Social. Os McCann até podem ter razões de queixa acerca de um certo jornalismo sensacionalista que vive às custas da desgraça alheia, mas ao mesmo tempo só me ocorre perguntar se não queriam eles que o caso fosse amplamente divulgado por todo o mundo, contando para isso com o apoio incondicional dos meios de comunicação social? Não foram eles que correram "ceca e meca", arrastando atrás de si os jornalistas como autênticas sombras? Não foram eles que contrataram um assessor de imprensa, pago a peso de ouro, logo desde os primeiros momentos? Perante isto, diria que a fama tem o seu preço. Um altíssimo preço. No fim de contas, os McCann viram como é difícil sobreviver quando se é o alvo dos media. Por isso mesmo, antes de enveredar pelo caminho da fama deveriam ter pensado duas vezes…

 


10
Mar 09

 

Registo a coerência do BE em não ceder à hipocrisia da "real politik" que em nome de valores nunca confessados é capaz de se entregar como meretriz aos caprichos de um qualquer déspota iluminado. É o que está a acontecer neste momento lá para as bandas da capital da nação. O presidente angolano, José Eduardo dos Santos, iniciou hoje uma visita de Estado a Portugal. Até aqui tudo bem se este senhor não presidisse a um regime corrupto que se perpetua no poder, à boa maneira do velho despotismo africano, e que à custa da delapidação dos bens que pertencem a todo o povo, enriqueceu toda uma plêiade de pequenos tiranetes que gravitam em torno de si. Enquanto isso, a esmagadora maioria da população vive na mais confrangedora miséria, ao mesmo tempo que uma minoria endinheirada se dá ao luxo de correr mundo na busca das melhores lojas de alta-costura e das mais requintadas estâncias de veraneio. É certo que um país como Portugal depende cada vez mais da emergente economia angolana, mas já me causa imensa impressão ver quase todo o espectro político português de cócoras perante o senhor dos Santos. Por isso mesmo, apetece-me corrigir o que disse e anunciar que José Eduardo dos Santos iniciou hoje uma visita à sua quintarola europeia…

 


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Olá!Também entrei hoje oficialmente de férias!=)E ...
Hmmm...simplesmnete o tipo ve a sua realidade ameç...
Que vergonha...só agora reparei que estás de volta...
Boas férias...e boa música.
Não sei se posso dizer que sou um frequentador da ...
Pinguim, ainda bem que gostaste. O tema é aliciant...
Toby, realmente com mentes tão tortuosas só se pod...
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Gostei imenso do teu texto.Parabéns! Abraço.
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