No início desta semana, José Sócrates apelou à compra de painéis solares pelos portugueses, no âmbito do programa do Governo de incentivo ao uso de energias renováveis, destacando o impacto positivo que isso terá na economia a vários níveis. E fê-lo em termos patrióticos, quase dramáticos, afirmando que os portugueses estarão a dar um contributo à economia do país e a criar mais empregos se instalarem painéis solares nas suas casas. Segundo o primeiro-ministro, o programa de incentivo à aquisição de painéis solares prevê ainda a comparticipação, pelo Governo, de 50 por cento no custo total do investimento.
Apesar da comparticipação do Governo, que, em abono da verdade, até me parece generosa, não acredito que haja muitos portugueses a investir na compra de painéis solares. Isto porque os portugueses são avessos à mudança e duvidam das vantagens da energia solar. Preferem assim pagar avultadas facturas à EDP e depois desfiar o habitual rosário de lamentações sobre o preço da electricidade. Por outro lado, diz-se que é um investimento caro, cujo retorno demora cinco anos, o que o torna um investimento pouco atractivo para a generalidade dos consumidores.
Na minha perspectiva de leigo na matéria, os portugueses só fazem mal em não aproveitar a generosa oferta do Governo, pelo menos enquanto ela durar… Parece-me aliás que a atitude desconfiada em relação às energias alternativas tem muito a ver com as características do consumidor português que sempre privilegiou a quantidade em desfavor da qualidade, uma característica muito própria das sociedades subdesenvolvidas. Além disso, parece-me também que os portugueses, na sua maioria, estão mal informados sobre as vantagens das energias renováveis e desconhecem que a opção por este tipo de energias amigas do ambiente é inadiável. Isto porque entrou em vigor no passado mês de Janeiro legislação que obriga os edifícios a possuir um certificado energético. Além disso, segundo me informei, lá para 2012, entrará em vigor a segunda fase do protocolo de Quioto sobre emissões de CO2 e a factura a pagar por se ultrapassarem os limites acordados vai entrar-nos directamente no bolso.
Perante isto, acho que as autoridades portuguesas deviam antes de mais fornecer informação adequada aos consumidores e não limitar-se a dizer: "Comprem painéis solares que nós até pagamos 50 por cento do investimento". Assim dificilmente se promoverá a consciência ambiental e se convencerá o tuga médio a optar pelo uso das energias renováveis. Penso que também neste domínio, Portugal ainda tem muito caminho a fazer. Basta dizer que na Grécia instalam-se cerca de 40 mil painéis por ano, enquanto em Portugal apenas 2500! Num país como o nosso, com um magnífico sol a brilhar quase todo o ano, é criminoso que não se avance decididamente no uso da energia solar. Porque afinal o sol quando nasce é para todos… e é para ser aproveitado! Cada vez mais…