Este fim-de-semana, tive o prazer de assistir ao concerto de Nneka no Cinema Batalha, no Porto, onde a cantora apresentou o seu mais recente trabalho, intitulado "No Longer at Ease". Já não entrava na sala do Cinema Batalha há muito tempo. Depois de reabrir em 2006, o grande auditório, que tem uma acústica excelente, acolhe espectáculos de música e de cinema. Neste concerto, pude constatar ao vivo tudo o que já tinha lido e ouvido acerca de Nneka. Impressionou-me sobretudo a forma como a cantora apelou às coisas simples da vida, que muitas vezes nos passam ao lado, e aos graves problemas mundiais que ainda aguardam uma solução, como sejam a corrupção, o subdesenvolvimento, a exploração das riquezas naturais dos países do terceiro mundo às mãos dos interesses das grandes multinacionais europeias e norte-americanas. Oriunda da Nigéria, Nneka sabe do que fala, especialmente quando se refere à exploração abusiva de petróleo no delta do rio Níger, local onde nasceu e cresceu. Por isso mesmo, Nneka é mais que uma cantora. Nneka é uma voz de intervenção, que faz muito mais do que mostrar a sua música e foi dessa forma interventiva que a cantora se mostrou durante todo o concerto. De aspecto aparentemente singelo, com ar de menina rebelde, Nneka fala como uma criança, de coração e mente abertos, mas com uma consciência social e política madura e acima da média. Sendo possuidora de uns dotes vocais invejáveis e acompanhada por uma excelente banda, Nneka canta as suas músicas, quase que seguindo um ritual de explicação das mesmas. E é nisso que Nneka difere de outras cantoras soul: a jovem nigeriana conseguiu criar um ambiente de cumplicidade com o público, mantendo uma conversa animada e por vezes emotiva. Depois de uma semana de trabalho muito cansativa, foi um dos melhores concertos a que alguma vez assisti. Para ouvir, escolhi a música que mais fez o Cinema Batalha vibrar, "Heartbeat".