Hoje estou esgotado! Numa segunda-feira é difícil dizer-vos isto. Mas é verdade. Parece que nada na minha vida bate certo. Os que me têm acompanhado por aqui sabem a que me refiro. É que a separação de um grande amor deixa sequelas... Agora é também a avaliação dos professores. Na minha escola anda toda a gente de "candeias às avessas" por causa da dita avaliação. Outra coisa não seria de esperar e isso reflecte-se no ambiente que se vive na minha escola que, como em muitas outras, está contaminado por esta avaliação e pelas consequências da sua mais que provável aplicação. Entre colegas há um mal-estar que a cada dia que passa se torna mais evidente. O ambiente está pesado, com conversas em surdina entrecortadas por silêncios e olhares... A suspeição está no ar...
Até aqui todos eram desfavoráveis a esta avaliação. Nenhum colega destoava da opinião geral que era bastante consensual quanto à implementação de um modelo de avaliação delineado num qualquer gabinete da capital, situado muito longe da realidade das nossas escolas. Não havia colega que não fosse contra as alterações que a ministra quis implementar.
Infelizmente, chegada a hora de tomar decisões, a opinião de muitos é abalada por diversos factores, alguns compreensíveis face à situação em que vivemos, outros nem tanto. Uns quantos pensam acima de tudo no seu próprio interesse. Temem não progredir na carreira ou virem a perder o ordenado que auferem. Outros têm medo das possíveis represálias que poderão ter por parte do ministério. Outros ainda dizem uma coisa mas na hora de tomar decisões e lutar baixam os braços e preferem fazer outra coisa radicalmente diferente daquela que até agora defenderam. É precisamente nas horas mais difíceis que se conhece o carácter e a fibra das pessoas. Diria mesmo que estas horas são cruciais para qualquer relação, seja ela profissional ou outra. É perfeitamente aceitável que alguns colegas sintam medo perante esta situação. Já a falta de carácter manifestada por alguns é insustentável. Não gosto. Fico enojado. Só me apetece bater com a porta...
Na semana passada, expirou o prazo para a requisição das aulas assistidas, que são indispensáveis para que o professor avaliado tenha nota superior a "Bom", ou seja, só quem as requisitar poderá ter avaliação de "Muito Bom" ou "Excelente". São apenas 2 ou 3 míseras aulas! É incrível como se pode definir a qualidade do desempenho de um docente a partir de 2 ou 3 aulas! Não é possível que alguém no seu perfeito juízo possa pactuar com uma situação destas. Só uma mente muito enviesada pode achar que essas 2 ou 3 aulas fazem toda a diferença. Não posso crer!…
Por mim, não tenho qualquer problema em que as minhas aulas sejam assistidas, mas apenas por gente devidamente habilitada para o efeito. Concordo plenamente que a avaliação dos professores é necessária. Mas assim não! Não se pode dizer que o professor A ou B corresponde aos requisitos desta avaliação só com 2 ou 3 aulas assistidas!
Pois bem. Depois de muito ter reflectido, resolvi não entregar requisição nenhuma, para não atraiçoar a minha consciência e aquilo por que tenho lutado. Alguns colegas acompanharam-me nesta decisão. Não é nada fácil arriscar uma decisão destas. De facto, também eu tenho medo. Mas decidi em consciência não pactuar com uma situação tão gravosa para os interesses da classe e para o futuro da educação neste país. Resolvi seguir o meu caminho na obediência àquilo que sempre tenho defendido e que penso estar certo e não seguir o caminho que outros traçaram sem conhecimento de causa.
Infelizmente, muitos daqueles que têm reclamado alto e bom som contra as políticas do ministério e, nomeadamente, contra este modelo de avaliação, entregaram a dita requisição. Já não me revejo em muitos colegas. Alguns deles eu tinha como referências em termos de entrega à profissão e de lisura no tratamento com os demais colegas. Estranho mundo este! Parece que as ideias e as convicções andam ao sabor dos interesses do momento. E esta situação deixa-me desalentado e profundamente arrependido de ter escolhido ser professor.
Nestes momentos, dou comigo a pensar. Até posso entender a situação dos professores contratados e o seu medo em virem a ficar desempregados. Mas quanto aos professores de Quadro de Zona Pedagógica e do Quadro de Escola entendo menos, ou não entendo mesmo. No meio disto tudo, ainda há colegas que chegaram ao ponto de entregar a requisição porque dessa forma podem aceder às cotas reservadas aos professores que irão progredir na carreira. É a ideia verdadeiramente distorcida de que quantos menos entregarem a requisição para as aulas assistidas e os objectivos individuais mais possibilidade terão de conseguir uma classificação de "Excelente" e assim passarem à frente dos demais. Que sentido de justiça! Como é que se podem incutir valores nos nossos alunos com procedimentos destes?! Palavras para quê?!
E mesmo depois da entrega da dita requisição continuam a reclamar e a empestar o ambiente. Nestas alturas, apetece-me "virar a mesa". Então a luta que temos protagonizado tem sido em vão? Será que estão realmente convencidos da justeza das suas posições? Ou tem sido uma forma de não destoar do ambiente e não ficarem mal perante os outros colegas de profissão?
Perante esta situação lamentável, eu só posso dizer que não me importava nada – muito pelo contrário – de ser classificado com "Muito Bom" ou "Excelente". Quem não gostaria? E eu não vou ser hipócrita e dizer o contrário. Aliás, neste cantinho insuspeito sou aquilo que sou e não vou fingir outra coisa. Mas não desta maneira. Este modelo é apenas uma avaliação talhada num qualquer gabinete e que não corresponde minimamente à realidade com que nos debatemos no dia-a-dia da nossa profissão. É uma avaliação que não faz sentido porque está viciada desde o início.
Não entreguei a dita requisição e também não vou entregar os meus objectivos individuais. Está decidido. Não volto atrás. Não me importa nada se muitos ou poucos o irão fazer também. Nunca andei atrás dos outros. Sempre pensei pela minha cabeça. E é pena que nas horas decisivas muitos abandonem as causas pelas quais se bateram. Começo a pensar que este tempo não é o tempo das grandes causas, nem sequer das pequenas. É um tempo amorfo, sem causas, em que as pessoas se movem apenas pelos seus próprios interesses e não pensam em causas maiores.
Com esta situação, não prevejo nada de bom a respeito da avaliação dos professores nos próximos tempos. A partir de agora, o ministério poderá fazer o que quiser porque já deve ter reparado que a união entre os professores se quebrou. Neste sentido, grande parte das culpas só poderá ser atribuída aos professores e às suas atitudes.
Também não estou preocupado que me passem à frente, que sejam todos "Muito Bons" ou "Excelentes", que recebam um ordenado maior. Sei que posso vir a perder e a ficar muito mal no meio disto tudo. Mas resolvi não pactuar mais com este estado de coisas. Pois o que se passa no nosso ensino não merecia outra decisão. Se algum dia puder não mais voltarei a ser professor. Para mim basta!