Como já referi aqui, na passada sexta-feira pude assistir ao último filme de Gus Van Sant, um dos meus realizadores preferidos. O aclamado cineasta convidou um elenco soberbo, encabeçado pelo incomparável Sean Penn, para contar a história verídica de Harvey Milk (1930-1978), que a prestigiada revista Time considerou como um dos heróis do século XX. Cansado de se esconder de si próprio, Harvey abandona o seu bem remunerado emprego em Wall Street e decide "sair do armário", mudando-se para a cidade de São Francisco com o seu amante de longa data, Scott Smith. Na comunidade gay de Castro, pequenas vitórias conduzem a outras maiores e Harvey, ao falar abertamente para uma maioria silenciosa, acaba por ser o primeiro político assumidamente homossexual a ganhar umas eleições. Quando Harvey Milk foi assassinado em 1978, o mundo perdeu uma voz inconformada que se elevou corajosamente pela igualdade de direitos. O assassino confesso foi um ex-deputado conservador que recebeu uma pena de apenas 5 anos. A pena branda causou a revolta que levou a uma série de motins que ficaram na história do activismo gay nos Estados Unidos da América, os "White Night Riots". A revolta levou também à abolição no Estado da Califórnia da legislação que levava em consideração o estado mental do assassino, o que poderia diminuir a pena. Já em 1985, "The Times of Harvey Milk", sobre a vida e a morte do político, ganhou o Óscar de melhor documentário. Para a próxima edição dos Óscares, que serão entregues no dia 22, "Milk" conseguiu oito nomeações, incluindo a de melhor filme do ano. Na personagem de Harvey Milk, a genial interpretação de Sean Penn valeu-lhe mais uma nomeação (a quinta) para os Óscares na categoria de melhor actor principal. Um filme obrigatório que eu recomendo vivamente.
Ainda a propósito da igualdade de direitos, a RTP1 emite hoje à noite no programa "Prós e Contras" um debate sobre o casamento homossexual. À semelhança de debates anteriores, já estou a ver o filme: de um lado, os moralmente superiores e os politicamente correctos, do outro, os pervertidos e as aberrações da natureza. Mais uma vez, as legítimas aspirações de uma minoria são sacrificadas à vontade dominante (até quando?...) de uma maioria que se arroga o direito de decidir sobre a vida dos outros. Quase me apetecia dizer que precisamos também de um Harvey Milk entre nós...