Um blogue pessoal mas... transmissível

11
Jul 09

 

 

Depois de um longo período de ausência, motivado por questões pessoais e profissionais, volto a este meu cantinho para agradecer aos internautas que, apesar disso, continuam a visitar-me por aqui e para homenagear uma pessoa extraordinária que tenho o prazer de contar no meu círculo de amigos e do qual, por razões que a seguir compreenderão, não mencionarei sequer a inicial do nome próprio. É que este amigo tão especial é seropositivo e apenas um número muito restrito de pessoas sabem desse facto.

 

O meu amigo completa hoje mais um aniversário. Foi infectado há apenas dois anos quando ainda se encontrava numa relação que entretanto terminou. O namorado foi tão desumano e cruel que, quando o meu amigo fez os testes que se vieram a revelar positivos e lhe comunicou os resultados, simplesmente lhe respondeu: "E o que é que eu tenho a ver com isso?". Perante esta situação, o meu amigo ficou completamente desorientado, a ponto de pensar suicidar-se.

 

Felizmente que o apoio dos poucos amigos a quem ele entretanto revelou esse "segredo" foi determinante para que ele desse a volta por cima. E hoje é ele que dá uma lição de vida a todos nós, os amigos que o acompanham desde o início nesta luta. Porque o valor da amizade verdadeira é muito mais importante que todas as contingências da nossa vida. Nesta situação de grande vulnerabilidade, é importante a presença dos amigos. Todos sabemos que a discriminação reina, mesmo nos ambientes gay, e as pessoas nesta situação são facilmente atiradas para "guetos". Todos temem alguém que saibam ser seropositivo. Para a maior parte das pessoas, é um caso perdido. Mas infelizmente a vida pode pregar-nos partidas inesperadas. De facto, quantas vezes alguém que rejeita relacionar-se com um seropositivo, acaba por fazê-lo com uma pessoa que lhe esconde a sua seropositividade e como ambos gostam de o fazer "ao natural" não se protegem. E eis como alguém que teme o que conhece, ganha um "bónus de vida" de um desconhecido que na maior parte dos casos nunca mais verá...

 

Aproveito assim este meu post/pensamento para homenagear o meu amigo e todos aqueles que, neste deserto de hipocrisia e desumanidade, são capazes de amar apesar de todas as discriminações e preconceitos, sabendo que os seropositivos vivem o dia-a-dia com uma força e desejo de viver que os outros por vezes não compreendem...

 


23
Mar 09

 

Este primeiro fim-de-semana de primavera ficou marcado pelo reaparecimento na minha vida de alguém de quem não tinha quaisquer notícias há mais de três anos. Através de um simples mail tive a inesperada surpresa de ver o A. entrar novamente na minha vida. Nunca falei aqui deste amigo tão especial, um amigo daqueles que se conhecem em momentos decisivos e que nos marcam para o resto da vida, mesmo que por força das circunstâncias os nossos caminhos sigam rumos diferentes e deixemos de nos contactar com a frequência que desejávamos. Foi o que aconteceu entre mim e o A.. Uma bela amizade que não resistiu à distância e ao tempo… até agora.

 

Intitulei este post/pensamento de "Não há coincidências...". Muita gente diz-me que sim. Que há coincidências. E para justificar a sua posição, acenam-me com factos e argumentos, à primeira vista irrefutáveis. Eu, porém, continuo a pensar que não. O que interessa é saber interpretar adequadamente os sinais que se escondem por detrás dos acontecimentos que são considerados por muitos como coincidências. Provavelmente só mais tarde, quando os acontecimentos já estiverem suficientemente maturados, é que se conseguem desvendar completamente as razões pelas quais um simples acontecimento é encarado como uma grande coincidência. Até lá, apenas podemos fazer conjecturas e arriscar explicações.


Contrariamente ao que penso, considero que o facto de o A. ter entrado de novo em contacto comigo neste momento é uma grande coincidência. No momento em que um grande amor sai da minha vida, aparece alguém por quem continuo a nutrir um carinho muito especial... Sendo uma pessoa de afectos, costumo ligar-me demasiadamente aos amigos. Por isso mesmo, quando se dão os afastamentos e se quebram as amizades, sofro a dobrar. Mas é assim que eu continuo a viver as minhas amizades, mesmo contra todos os ventos e marés. Voltando à razão de ser deste reaparecimento do A. na minha vida, tenho para mim que este facto, quando nada o fazia prever, quer mostrar-me alguma coisa, precisamente quando estou a tentar libertar-me das amarras que ainda me prendem ao M..

 

É no meio de um enorme turbilhão de sentimentos e emoções, quando ainda quero acalentar uma réstia de esperança de que algo possa mudar em relação ao M. e ao mesmo tempo tento convencer-me do contrário, que novos factos vêm juntar-se à história e pessoas que são importantes para mim entram de novo em cena. Começo a pensar que no palco em que decorre a representação da minha vida já não cabe mais ninguém. Estão lá todos os personagens. A representação entrou em cena. O sucesso está garantido. Pelo menos, para quem assiste à representação não será um tempo mal empregue... Já para mim estes acontecimentos, aparentemente sem qualquer significado especial, colocam-me sempre novas questões. Por isso mesmo, acho que a representação da minha vida está a ficar demasiado complexa…


Devo dizer que eu e o A. mantivemos ao longo de anos uma relação de grande amizade. Não uma "amizade colorida", mas uma grande amizade. De todas as pessoas com quem travei amizade ao longo da vida, foi talvez a pessoa com quem mais me identifiquei em todos os sentidos e com a qual mantive sempre uma relação de grande cumplicidade. Sem margem de erro, diria que nas minhas relações amorosas nunca existiu uma tal comunhão de sentimentos. Podem então perguntar-me porque é que as coisas nunca avançaram noutro sentido. Apesar de me questionar muitas vezes o porquê de isso não ter acontecido, arrisco agora uma explicação. Talvez porque a nossa amizade se sobrepôs a tudo o resto e foi considerada, ao menos tacitamente, como algo ainda mais importante do que qualquer relação de amor e que era preciso manter a todo o custo. Porque como disse atrás, o A. apareceu na minha vida num período deveras complicado, em que foi preciso tomar decisões difíceis, e a sua indefectível amizade foi determinante para mim nesses momentos. Mas isto são apenas divagações de alguém que gosta de discorrer pensamentos sobre pequenas coisas que lhe vão acontecendo no dia-a-dia…
 


25
Fev 09

 

Este ano, estive para não festejar o Carnaval mas uns bons e velhos amigos desafiaram-me a fazê-lo. Devido às circunstâncias actuais, achei que não era muito coerente festejá-lo mas, por outro lado, pensei que era uma forma de esquecer o momento difícil por que estou a passar. De qualquer maneira, o Carnaval já não me diz tanto como há uns anos atrás em que esta época era vivida de uma forma intensa e especial. A fantasia era preparada ao pormenor e aguardava-se ansiosamente pela hora de a vestirmos. Depois rumava-se ao sítio onde se concentrava o pessoal do burgo e arredores e aí se passava a noite entre copos, música e muito divertimento. Hoje, por várias razões, já não é bem assim. Ainda por cima este ano não estive com disposição para preparar a fantasia. E nem sequer pensei nisso. O P. e a D. bem insistiram para que eu me mascarasse mas eu decidi que este ano não iria fantasiar-me. Como que a querer dizer que por andar a usar uma máscara durante todo o ano não via razão para usar mais uma no Carnaval... O certo é que acabei por aceitar o convite porque todos os motivos são válidos para sair de casa. Como em anos anteriores, escolhemos o sítio para onde converge o pessoal conhecido. A festa estava bem animada, fantasias para todos os gostos, boa música, ambiente muito divertido. Porque afinal o que interessa é esquecer tudo, nem que seja por umas horas de puro divertimento. A noite até foi muito divertida. Foi quase uma directa. Regressámos a casa já quase o sol despontava. Estava morto de cansaço. Apesar disso, dormi poucas horas. Mas desta vez dormi bem.

 

Quando finalmente me levantei, reparei que a G. tinha enviado uma sms a convidar-me para sair. Fiquei contente com esse gesto, porque ainda não tinha estado pessoalmente com ela desde que lhe revelei a minha orientação sexual. Combinámos ir até à praia mais próxima para dar uma volta e conversar um pouco. Fui apanhá-la a casa e rapidamente nos pusemos na praia. Estava um belíssimo dia de sol. Sentámo-nos no areal e ali estivemos à conversa até ao sol-posto. Voltou a falar-se do mesmo assunto (homossexualidade) e posso dizer que a G. está a impressionar-me pela positiva. No entanto, persistem as dúvidas e eu, com uma paciência de chinês, lá vou tentando esclarecê-las... Finalmente, fomos lanchar a um bar da referida praia. E bem poderia ter saltado esta parte. É que ao sairmos e envolvidos pela conversa que estávamos a ter, nem reparámos que os meus óculos de sol ficaram em cima da mesa. Eu sou "despistado" por natureza mas nunca me tinha acontecido uma coisa dessas. Só quando cheguei a casa é que reparei que me faltavam os óculos de sol. De nada valeu voltar ao bar. Já tinham sido levados por algum "amigo do alheio"... Infelizmente, gente desonesta é uma praga que existe por todo o lado. Em menos de meio ano, fiquei sem um telemóvel,  sem o leitor de MP3 e agora sem os óculos de sol. O que virá a seguir?...

 


14
Fev 09

 

Ontem aproveitei a minha tarde livre para fazer uma das coisas que mais gosto: estar com os amigos, os amigos verdadeiros, que vão sendo cada vez menos. Fui almoçar com o P., um dos poucos amigos de infância que ainda mantenho. De facto, a maioria já se dispersou e dos poucos com quem ainda mantenho contacto, uns têm namorada enquanto outros já casaram e não têm tempo nem disponibilidade para sair e estar com os amigos. Durante o almoço com o P., fiquei a saber que a direcção da empresa onde trabalha como engenheiro desde que concluiu a licenciatura está a pensar seriamente em dispensar pessoal. Por isso, o P. tem-se desdobrado em enviar curricula para tudo o que é lado. Disse-me também que está a pensar em aceitar uma proposta de trabalho na Alemanha, embora por um período limitado mas com boas possibilidades de vir a integrar os quadros da empresa. Só que, entretanto, a namorada ficou grávida. Diz que quer assumir a paternidade da criança mas que por enquanto ainda não pensa em casar. Conhecendo eu a família da namorada, penso que vai ser difícil ao P. contornar a questão doutra maneira, mesmo com os problemas de trabalho e da eventual ida para a Alemanha pelo meio. De facto, não sei... Até eu, se não fosse o sol e o mar ao pé da porta, era bem capaz de experimentar outras paragens. Porque viver num país profundamente atávico e eternamente deprimido já começa a cansar... Como o P. tinha de tratar de umas burocracias, rapidamente tomámos café, despedimo-nos e cada um foi à sua vida.

 

Estava eu a entrar no carro, ainda no estacionamento do centro comercial, quando recebo uma chamada da minha amiga G. que me pergunta se eu quero ir ver o novo filme do Gus Van Sant. Nem mais. Sabendo ela que Gus Van Sant é um dos meus realizadores preferidos, não podia ter melhor isco para me apanhar. E eu que ando há já algum tempo para ver o filme, lá acedi e aceitei o convite. Depois de tratar de uns assuntos, fui para casa, tomei um duche, troquei de roupa e à hora marcada lá estava eu preparado para ir apanhar a G.. Fomos jantar ao restaurante chinês da terrinha e mais uma vez comi um daqueles pratos chineses inomináveis e muito bem condimentados. Em seguida, rumámos ao cinema. Vimos o filme e devo dizer que gostei. Mas de "Milk" falarei noutra oportunidade. O certo é que depois da sessão fomos beber um copo a um bar próximo. Entrámos e pusemo-nos à conversa sobre o filme. Rapidamente, a conversa descambou para o tema da homossexualidade e para algumas pessoas que conhecemos e que não se assumem para a sociedade. No meio da conversa, eu que tenho a piada parva na ponta da língua (tem dias...), saio-me com esta: "Olha, eu sou metrossexual. Comigo o sexo é só ao metro!". Por sua vez, a G. dispara com esta: "Pois, podes ser o que quiseres. Até podes ser homossexual, que eu não vou deixar de gostar de ti". E eu, num impulso completamente impensado, digo-lhe mais ou menos isto: "Ainda bem que falaste nisso. É isso mesmo que eu sou. E é por isso que eu não quero nem posso envolver-me contigo". "És o quê?", pergunta ela. "É o que ouviste: sou gay!". Escusado será dizer que o rosto da G. se tingiu de todas as cores e até eu senti o chão fugir por debaixo dos meus pés. Mas estava dito! Não havia volta a dar... Apesar da naturalidade que ela procurou imprimir à conversa, senti que havia muito desconforto e preconceito. Por mim, senti-me completamente desnudado perante uma mulher, o que para um gay também não deixa de ser desconfortável. Durante o resto da noite, não houve outro assunto de conversa. Mas a conversa também não durou muito mais. A G. trabalhava hoje de manhã e por isso tinha de ir mais cedo para casa. Saímos, fui levá-la a casa, despedimo-nos e regressei ao meu cantinho. Desde ontem, ainda não falámos. Não sei como irá ser a reacção dela quando nos reencontrarmos, precisamente porque ela mantinha a esperança de que pudéssemos ter algo mais do que uma simples amizade. Neste momento, sinto um misto de sentimentos contraditórios. Por um lado, sinto-me mais aliviado, porque não tenho de andar a alimentar eternamente uma vida dupla, mas, por outro lado, apreensivo, porque não quero perder a amizade dela nem quero que a minha orientação sexual seja tema de conversa à mesa do café. No entanto, esta situação, tão inesperada que ainda me sinto meio atordoado, veio confirmar aquilo que eu previa: que 2009 iria ser um ano de pequenas e grandes mudanças na minha vida e que iria fazer coisas que nunca pensei fazer. Pois bem, isso já começou a acontecer...

 


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