Apesar do sono acumulado de alguns dias, não foi muito difícil ficar acordado para ver a grande cerimónia da 81.ª entrega dos Óscares. O grande vencedor da noite foi sem dúvida "Quem Quer Ser Bilionário?", que arrecadou nada menos que oito Óscares. Um feito notável se considerarmos que este filme independente, rodado na Índia, ousou roubar o protagonismo da festa às fitas dos grandes estúdios. Além dos troféus de Melhor Filme e Melhor Realizador, para Danny Boyle, o filme conquistou também os troféus de Melhor Argumento Adaptado, Melhor Banda Sonora Original, Melhor Canção Original, Melhor Som, Melhor Montagem e Melhor Fotografia. Para trás ficou a película mais nomeada da noite (nada menos do que 13 nomeações), "O Estranho Caso de Benjamin Button", que deixou sabor a derrota apesar dos três Óscares que conquistou, nomeadamente os de Melhor Caracterização, Melhor Direcção Artística e Melhores Efeitos Visuais. O Óscar de Melhor Autor foi entregue a Sean Penn, pelo papel de activista gay que interpretou em "Milk". Para mim, esta vitória valeu por toda a noite porque colocou na ribalta as questões relativas aos direitos dos homossexuais. Penn arrancou o seu discurso de agradecimento com um "you commie, homo-loving sons of guns" antes de fazer o discurso político da noite, defendendo a igualdade de direitos para os homossexuais. Por sua vez, Kate Winslet foi finalmente premiada como Melhor Actriz após quatro nomeações sem sucesso, e por isso não conseguiu evitar as lágrimas. O mesmo aconteceu a Penélope Cruz, inesperadamente galardoada como Melhor Actriz Secundária por "Vicky Cristina Barcelona", que não se esqueceu de proferir algumas frases em castelhano no agradecimento a Espanha. Mais previsível foi a atribuição do Óscar de Melhor Actor Secundário ao falecido Heath Ledger por "O Cavaleiro das Trevas". Este facto deixou a sala com os olhos rasos de lágrimas, especialmente depois do sentido agradecimento dos pais e da irmã.
A cerimónia foi marcada pela prestação do novo anfitrião, Hugh Jackman, que imprimiu à apresentação uma vertente mais musical, fazendo a cerimónia regressar aos números mais elaborados que outrora a caracterizavam. E pode dizer-se que Jackman não esteve nada mal, pois logo a abrir protagonizou uma paródia cantada aos filmes nomeados que mereceu uma ovação de pé por parte da assistência. E a meio do espectáculo, proclamou o regresso do musical com um número extravagante coreografado por Baz Luhrmann, o realizador de "Moulin Rouge" e "Austrália", em que fez desfilar algumas das canções mais célebres do cinema na companhia de Beyoncé e dos jovens casais que brilharam em "Mamma Mia" e "High School Musical". Por outro lado, a estrutura da cerimónia também foi um pouco diferente, com elaborados cenários referentes a cada categoria. Depois cada uma das categorias foi apresentada na ordem correspondente à da feitura de um filme, começando com os troféus de argumento e concluindo no da montagem. Também diferente foi a forma de apresentar os candidatos aos Óscares nas quatro categorias de interpretação: em vez de ser o actor que venceu o troféu no ano anterior a apresentá-lo na respectiva categoria para o sexo oposto, foram cinco intérpretes que já ganharam esse galardão em anos anteriores a apresentá-lo, com um discurso pessoal dedicado a cada um dos nomeados. Foi, sem dúvida, uma cerimónia diferente que me agradou pela forma simples, mas ao mesmo tempo glamorosa, como decorreu.
E agora a lista completa dos vencedores desta 81.ª cerimónia de entrega dos Óscares:
Melhor Filme - "Quem Quer Ser Bilionário"
Melhor Realizador - Danny Boyle por "Quem Quer Ser Bilionário"
Melhor Actor - Sean Penn por "Milk"
Melhor Actriz - Kate Winslet por "O Leitor"
Melhor Actor Secundário - Heath Ledger por "O Cavaleiro das Trevas"
Melhor Actriz Secundária - Penélope Cruz por "Vicky Cristina Barcelona"
Melhor Longa-Metragem de Animação - "Wall.E"
Melhor Argumento Original - "Milk", de Dustin Lance Black
Melhor Argumento Adaptado - "Quem Quer Ser Bilionário", de Simon Beaufoy
Melhor Filme de Língua Estrangeira - "Departures", de Yojiro Takita (Japão)
Melhor Direcção Artística - "O Estranho Caso de Benjamin Button", de Donald Graham Burke e Victor J. Zolfo
Melhor Fotografia - "Quem Quer Ser Bilionário", de Anthony Dod Mantle
Melhor Guarda-Roupa - "A Duquesa", de Michael O'Connor
Melhor Montagem - "Quem Quer Ser Bilionário", de Chris Deakins
Melhor Caracterização - "O Estranho Caso de Benjamin Button", de Grag Cannom
Melhor Banda Sonora Original - "Quem Quer Ser Bilionário", de A.R. Rahman
Melhor Canção Original - "Jai Ho" (música de A.R. Rahman; letra de Gulzar), de "Quem Quer Ser Bilionário"
Melhor Efeitos Sonoros - "Quem Quer Ser Bilionário", de Tom Sayers
Melhor Som - "O Cavaleiro das Trevas", de Lora Hirschberg, Gary Rizzo e Ed Novick
Melhor Efeitos Visuais - "O Estranho Caso de Benjamin Button", de Eric Barba, Steve Preeg, Burt Dalton e Craig Barron
Melhor Documentário de Longa-Metragem - "Homem no Arame", de James Marsh e Simon Chinn
Melhor Documentário de Curta-Metragem - "Smile Pinki", de Megan Mylan
Melhor Curta-Metragem de Animação - "La Maison en Petit Cubes", de Kunio Kato
Melhor Curta-Metragem de Imagem Real - "Spielzeugland" ("Toyland"), de Jochen Alexander Freydank
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