Um blogue pessoal mas... transmissível

17
Fev 09

 

Como era de esperar, o debate de ontem no programa "Prós e Contras" da RTP1 não trouxe nada de novo a respeito da discussão sobre o casamento homossexual. Os mesmos estafados argumentos, os mesmos tiques homofóbicos, as mesmas agressões verbais. A meu ver, o único mérito que estes debates podem ter é colocar na discussão pública um tema que obviamente passará ao lado da grande maioria dos portugueses. Porque a vida real, o país real é outra coisa. Existe, de facto, muita homofobia em Portugal e ela está objectivamente do lado do "não". E eu poderia dar aqui o meu testemunho de que essa homofobia é real e não é invenção de alguém que acordou de mal com o mundo e de repente se lembrou de lançar umas atoardas.

 

Quanto ao tema do casamento homossexual e para não repetir o que já disse aqui, apenas quero reforçar que numa sociedade demo-liberal se devem respeitar as minorias, neste caso a homossexual, e promover a igualdade de direitos, neste caso o acesso ao casamento civil. Porque ao fim e ao cabo é disso que trata. O que neste e noutros casos poderia ajudar na compreensão do problema era a formação básica em direito nas escolas, para que se acabe de vez com a promiscuidade existente entre os conceitos de casamento do ponto de vista civil e do ponto de vista religioso/sacramental. É simples alcançar estas diferenças e aceitar o que elas significam, mas foram séculos duma vincada mistura entre lei canónica e lei civil que dificulta agora o saudável distanciamento de ambos os conceitos e realidades. A questão fundamental é a seguinte: o tempo passa e as realidades subjacentes a cada tempo modificam-se, e o mesmo acontece para o paradigma de pensamento que corresponde a uma determinada época. Por diversas razões, torna-se obsoleto, e as modificações que se sucedem no entretanto, que, na maioria das vezes são desprezadas por serem contra corrente, acabam por se generalizar a tal ponto que é necessário arranjar-lhes um enquadramento jurídico de forma a defendê-las e a reconhecê-las em igualdade com as outras que existiam anteriormente, e continuarão a existir, sem que com isso haja confusão entre ambas. Uma coexistência pacífica é mais do que suficiente. Não será preciso grande capacidade intelectual nem qualquer competência especial para perceber isto. É preciso ser apenas politicamente incorrecto e contra ventos e marés afirmar o óbvio…

 


16
Fev 09

 

 

Como já referi aqui, na passada sexta-feira pude assistir ao último filme de Gus Van Sant, um dos meus realizadores preferidos. O aclamado cineasta convidou um elenco soberbo, encabeçado pelo incomparável Sean Penn, para contar a história verídica de Harvey Milk (1930-1978), que a prestigiada revista Time considerou como um dos heróis do século XX. Cansado de se esconder de si próprio, Harvey abandona o seu bem remunerado emprego em Wall Street e decide "sair do armário", mudando-se para a cidade de São Francisco com o seu amante de longa data, Scott Smith. Na comunidade gay de Castro, pequenas vitórias conduzem a outras maiores e Harvey, ao falar abertamente para uma maioria silenciosa, acaba por ser o primeiro político assumidamente homossexual a ganhar umas eleições. Quando Harvey Milk foi assassinado em 1978, o mundo perdeu uma voz inconformada que se elevou corajosamente pela igualdade de direitos. O assassino confesso foi um ex-deputado conservador que recebeu uma pena de apenas 5 anos. A pena branda causou a revolta que levou a uma série de motins que ficaram na história do activismo gay nos Estados Unidos da América, os "White Night Riots". A revolta levou também à abolição no Estado da Califórnia da legislação que levava em consideração o estado mental do assassino, o que poderia diminuir a pena. Já em 1985, "The Times of Harvey Milk", sobre a vida e a morte do político, ganhou o Óscar de melhor documentário. Para a próxima edição dos Óscares, que serão entregues no dia 22, "Milk" conseguiu oito nomeações, incluindo a de melhor filme do ano. Na personagem de Harvey Milk, a genial interpretação de Sean Penn valeu-lhe mais uma nomeação (a quinta) para os Óscares na categoria de melhor actor principal. Um filme obrigatório que eu recomendo vivamente.

 


Ainda a propósito da igualdade de direitos, a RTP1 emite hoje à noite no programa "Prós e Contras" um debate sobre o casamento homossexual. À semelhança de debates anteriores, já estou a ver o filme: de um lado, os moralmente superiores e os politicamente correctos, do outro, os pervertidos e as aberrações da natureza. Mais uma vez, as legítimas aspirações de uma minoria são sacrificadas à vontade dominante (até quando?...) de uma maioria que se arroga o direito de decidir sobre a vida dos outros. Quase me apetecia dizer que precisamos também de um Harvey Milk entre nós...

 

 


20
Jan 09

Ontem, nas minhas deambulações nocturnas pela net e ao entrar num conhecido fórum de discussão sobre a actualidade, deparei-me com a questão inevitável do casamento homossexual, a propósito do compromisso (?) assumido por José Sócrates de avançar com o casamento entre pessoas do mesmo sexo na próxima legislatura. Perante a baixeza da linguagem e a pobreza dos argumentos, apeteceu-me logo escrevinhar uns pensamentos a propósito do assunto e que agora quero partilhar convosco.

 

1.º Nenhuma pessoa se deve sentir discriminada em função da sua orientação sexual. Por conseguinte, o casamento é um direito que deve ser garantido a qualquer cidadão, para que possa decidir em liberdade e responsabilidade o que fazer. Não é pelo facto de o casamento homossexual vir a ser legalizado que todos os gays e lésbicas se verão obrigados a casar. Por mim falo...

 

2.º Não vejo como a legalização do casamento homossexual possa ameaçar a família tradicional. De facto, não vejo como o casamento dos meus pais, que já passou dos 40 anos, possa ser afectado por isso. E também não vejo como um homem e uma mulher que se queiram casar possam deixar de o fazer pelo simples facto de o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo ser legal...

 

3.º Não compreendo nem aceito que se diga que o casamento homossexual contribui para a diminuição dos nascimentos e o progressivo extermínio da humanidade. Uniões homossexuais sempre as houve e haverá e se os casais heterossexuais não têm mais filhos é porque não podem ou não querem. Além disso, nenhum homossexual está impedido de procriar...

 

4.º Qualquer casamento civil, independentemente do sexo das pessoas que o contraem, é um simples contrato, com direitos e obrigações para ambas as partes, como qualquer outro contrato. Por isso, não entendo o stress provocado pelo nome que se deve atribuir ao instituto, quando se trata de pessoas do mesmo sexo. Já o matrimónio é outra coisa. É sacramento, pertence ao domínio da Igreja, e não é isso que está em causa.

 

Depois de todos os comentários que pude ler, começo a achar que Portugal merece estar na cauda da Europa. É que o último lugar assenta-lhe tão bem!


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