Começo a estranhar o silêncio em que está imersa a Presidência da República. Parece que o Presidente da República não tem nada a dizer sobre os últimos acontecimentos que envolvem ainda mais o primeiro-ministro no "caso Freeport". Já lhe conhecíamos essa faceta sonsa no caso Dias Loureiro, mesmo depois daquela falta de memória selectiva e radical, que veio mesmo a calhar. Agora o "caso Freeport" está de novo na ribalta, depois da TVI ter divulgado umas comprometedoras gravações em que o empresário Charles Smith afirma que José Sócrates é "corrupto". Convém dizer mais uma vez que no "caso Freeport", Sócrates é inocente até prova em contrário. No entanto, parece-me que o Presidente da República já se devia ter pronunciado sobre o que está acontecer, não alimentando guerrilhas político-partidárias, mas chamando a atenção para o funcionamento da justiça, que a meu ver tem sido pouco mais que vergonhoso.
De facto, quando existem dois arguidos suspeitos de corrupção activa, porque não se investiga qual é a identidade dos alvos dessa corrupção? Quando os magistrados envolvidos na investigação do caso se queixam de pressões nessa investigação, porque não se investiga de onde provêem essas pressões? Quando o processo parece ter estado parado durante quatro anos, porque é que só agora é que se avançou e ainda por cima pressionados pela investigação da polícia britânica? Quando existem jornalistas que dizem ter sofrido pressões de elementos do PS para não publicar notícias sobre o "caso Freeport", porque não averiguar a fundo qual a natureza de tais pressões e seguidamente proceder em conformidade? Tudo isto exigia uma intervenção do Presidente da República. Até para acautelar, como é sua obrigação, a separação de poderes, zelando para que o poder judicial não viva em cambalacho permanente com o poder executivo. Mas o homem é sonso demais…